Como entender o século XIX sem passar pela história das nações e dos impérios? Um bom ângulo de observação do peso que tiveram estas palavras é o ano de 1815. Para muitos historiadores este ano abre o longo século que se estende até a Primeira Guerra Mundial (1914-1919). São os “cem anos de paz” de Karl Polanyi.
1815 marcou a reviravolta política européia depois da derrota militar de Napoleão Bonaparte. O Congresso de Viena reconfigurou o mapa do continente, obrigando os franceses a devolverem os territórios ocupados, devido ao desfacelamento do Império Napoleônico. O objetivo do congresso era apagar o incêndio revolucionário de 1789, e trazer de volta o Antigo Regime, ao menos no aspecto político/social: restaurar a nobreza enquanto classe dirigente. Apesar das características cesaristas do seu governo, afirmado na mitologia do homem providencial, acima dos partidos e das classes sociais, governando diretamente para o povo-nação, Bonaparte representava parte dos ideais da Revolução Francesa. Em contraste com países feudais como a Alemanha (antes da unificação) ou estamentais como a Espanha e Portugal, a França era um país moderno, no sentido de uma nação integrada a um Estado. O Código Napoleônico, extenso instrumento normativo, que visava regulamentar as relações civis, foi exportado pelos franceses junto com o seu expansionismo territorial.
A Revolução Francesa proclamou direitos civis do homem e do cidadão. A declaração de direitos da Constituição francesa foi um documento inspirado na cultura política iluminista e universalista dos direitos humanos. Afirmava direitos do homem (universal) e do cidadão (francês). A nação passava a ser espaço de defesa e afirmação dos direitos humanos universais. O Império Napoleônico trouxe consigo esta tensão entre o particular e do universal. Como disse Hegel: Lá vai a razão do mundo a cavalo.
O Congresso de Viena, em sentido contrário,foi partidário da política de restauração monárquica. Quis ver os antigos reis e rainhas de volta, agora representados por seus descendentes, que teriam legitimidade de estar à frente dos aparelhos de Estado, uma atribuição historicamente admitida aos nobres. No entanto, as poucas décadas que separaram 1789 de 1815 foram suficientes para mover a história numa velocidade jamais concebida pela humanidade. Nesse quadro de mudança, a política de restauração teve como contraponto a política das nacionalidades.
Continua na próxima postagem.
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