sábado, 24 de janeiro de 2009

Vargas e o Estado Nacional

A revolução de 1930, mesmo saindo de cisões no interior das oligarquias da Primeira República, em que o Rio Grande do Sul e Minas Gerais protagonizaram a oposição ao continuismo paulista de Júlio Prestes, teve forte apelo antioligárquico, moderado, é claro, pela falta de hegemonia que provocou, na clássica acepção de Boris Fausto, um Estado de Compromisso. Esse rompimento com a composição oligárquica antecedente, mesmo que parcial, correu pela instalação de um Estado centralizador, via interventores escolhidos pelo governo central.

O processo de derrubada dos poderes locais nada teve de retilíneo. O exemplo de Minas Gerais talvez seja o mais eloqüente em mostrar a força renovatória de antigos líderes oligárquicos e o quanto esses se movimentaram, ou até mesmo inventaram a revolução. Lá, não somente Antônio Carlos, mas Bernardes e Wenceslau, cerraram fileiras em outubro de 30. A presença do presidente que perseguiu o tenentismo na década de 20 logo provocou um mal-estar, ainda mais eloqüente após o apoio deste à revolução paulista de 32.

A luta contra as oligarquias teria no Estado Nacional o seu contrário. No país independente desde 1822, a revoução de 30 prometeu instalar padrões menos personalistas e mais racionais de administração pública. Essa tarefa certamente encontrou dificuldades ao lidar com a falta de institucionalização política, ao menos no sentido que hoje entendemos por uma democracia liberal. O governo provisório durou quatro anos, o Estado Novo sete e a democracia de 34, três. Nesses quinze anos, buscou-se edificar essa nova forma estatal, rejeitando-se a cultura do bacharelismo jurídico, e, em seu lugar, introduzindo práticas consideradas científicas em diferentes áreas, na escolha de objetivos e nas práticas diárias de gestão. Essa atitude pode ser descrita como a admissão do moderno. A questão que nos resta é o quanto ficou descoberto na ponta da tradição política e cultural brasileira, ou seja, o quanto a modernização brasileira dos anos 30 e 40 do século passado, manteve do passado.

Bibliografia:

BOMENY, Helena. A estratégia da conciliação: Minas Gerais e a abertura política dos anos 30. In.GOMES, Ângela de Castro. Regionalismo e centralização política. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira,1980.

VIANNA, Luiz Werneck. A revolução passiva: Iberismo e americanismo no Brasil. Rio de Janeiro: Revan,1997.